sexta-feira, 1 de março de 2013

As Crônicas de Paulo Ribeiro



foto: Roni Rigon
Tá aí embaixo a capa de BONJA, novo livro do escritor Paulo Ribeiro, reunindo cem crônicas sobre Bom Jesus – cidade que completa cem anos em 2013.

O volume complementa o painel sobre a cidade serrana, campeã de baixas temperaturas no Estado, com Quando Cai a Neve no Brasil – outra coletânea de crônicas do autor bom-jesuense, editada pela Artes e Ofícios em 2004.

Publicado pela editora Belas-Letras, Bonja estampa na portada uma bela imagem clicada pelo fotógrafo Rafael Dutra Borges.

O lançamento está marcado para o próximo dia 30 – em Bom Jesus, claro.

Confira aqui embaixo um trecho da crônica A Tristeza como uma Bonita Canção:


"Kentucky Babe é aquela canção que você põe a rodar enquanto segue a Rota do Sol e vai tamborilando a mão no volante. E você sabe então que está tudo bem, está tudo Ok, a paisagem corre ao lado.


A canção é aquela que Boo Boo Tannembaum cantarola, a bela mãe do conto de Salinger sobre um menino que se nega a deixar um bote. Boo Boo está vestida de suéter preto de gola virada, bermudas, meias soquetes e mocassins (com aquele rosto eternamente memorável sem ser exatamente bonita) e vai cantarolando enquanto se aproxima do lago. O danado do Salinger era ótimo mesmo para criar esses bons momentos. Bom de descrição e ainda nos dá Kentucky Babe de canja no deslocamento da mulher de 25 anos...

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E fica mesmo na cabeça enquanto você sai em retirada para Bom Jesus ao longo da Rota do Sol. E você bate então no volante, dá o ritmo tamborilando no volante e segue olhando para o horizonte. E você vê então a primeira casa, tua mãe de criação nas manhãs mais frias, as cercas-vivas tomadas de sol, um alto-falante na torre.


A primeira aula, a primeira namorada, as festas de São João, uma fogueira. A calçada de nós de pinho na praça. As peras em seu tempo, Seu Epaminondas tocando as vacas. E um Zecateca a pedalar por mais de 48 horas, e se dizendo do México, vissem os recortes do jornal.


E muitos outros rostos surgem na estrada e umas casas quase sem cumeeiras porque a fumaça empesta e cobre de um foguetório o próprio ar. Há um exército de Bom Jesus, cada feição, mesmo dos mortos, vestidos, gravatas, uns close-ups pra se guardar. Cada emoção no rosto das jovens e os rostos com vincos, mais velhos, muito aos pares, tudo no tamborilar da mão.


E a Rota do Sol se estende e está tudo bem, é só tristeza, não há nada mais."



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