segunda-feira, 8 de abril de 2013

Restos mortais de Pablo Neruda devem ser exumados a partir de hoje

Pablo Neruda

Autoridades e especialistas no Chile preparam para esta segunda-feira o início do processo de exumação dos restos mortais do poeta Pablo Neruda. O corpo do poeta, que morreu em setembro de 1973, foi enterrado na região de Isla Negra, a 100 quilômetros de Santiago, a capital chilena. Participarão da exumação um total de 12 pessoas - peritos do serviço forense, especialistas da Universidade do Chile e observadores internacionais.

A versão oficial é que o poeta morreu em consequência de complicações causadas pelo câncer de próstata, em um hospital privado, em Santiago. Porém, amigos e parentes de Neruda sempre manifestaram dúvidas sobre a morte, pois ele era um crítico do governo militar e morreu logo após a instauração da ditadura no país.

No grupo de especialistas que acompanhará a exumação estão o toxicologista norte-americano Ruth Winecker, o cirurgião Aurélio Luna e o legista Francisco Etxeberria – este último participou, em 2011, do processo de exumação dos restos do presidente chileno Salvador Allende, que também morreu em 1973.

Três observadores internacionais estarão presentes durante a exumação, além do presidente do Partido Comunista (PC), Guillermo Teillier, o advogado da legenda Eduardo Contreras, um sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes, assim como o motorista que trabalhou para Neruda, Manuel Araya.

Em 2011, Araya levantou a suspeita sobre a causa da morte do poeta, levando o Partido Comunista, ao qual Neruda pertencia, a apresentar um pedido à Justiça para a abertura de inquérito. Em fevereiro, o juiz Mario Carroza, da Corte de Apelações de Santiago, decidiu pela exumação para esclarecer as causas da morte. 

Só para contentar os amantes da poesia e em especial os apaixonados por Neruda:

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". 
O vento da noite gira no céu e canta. 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou. 
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. 

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. 
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. 

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. 
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo. 

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido. 
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo. 

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. 
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. 

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. 
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. 

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido. 
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

Nenhum comentário:

Postar um comentário